Depois de uma ausência em 2018, mesmo com as inscrições regularizadas e pagas, o Frederico e o Carlos Gonçalves regressaram a um local onde têm sido “muito felizes”. Os Trilhos do Almourol, no meio da grande oferta de corridas da modalidade de “trail running”, ocupam um lugar muito especial no coração destes dois Tartarugas.
A nossa presença em 2019 fica marcada à partida pela estreia do Carlos Gonçalves no Trail Curto com uma distância de 25 quilómetros, abandonando, não sabemos se definitivamente, as anteriores opções pela também denominada de Maratona Trail. Ainda não totalmente recuperado das suas lesões na coluna e no menisco do joelho direito, optou por experimentar a versão mais curta e, quiçá, tomar uma decisão mais racional quanto à distância porque irá optar em futuras participações nos Trilhos do Almourol. O Trail Longo, com mais de 40 quilómetros, tem uma primeira metade muito dura deixando marcas profundas nos atletas e que, normalmente, conduzem a esgotamento muscular quando entram no percurso dos vinte e cinco quilómetros do Trail Curto.
A partida na cidade do Entroncamento obriga a um esforço maior dos atletas obrigando-os a levantar mais cedo do que é habitual. E temos também de levar em linha de conta que ainda é necessário apanhar um autocarro que nos levará até ao ponto de partida que, no caso do Trail Curto, terá lugar em Constância. No entanto os nossos atletas já são experimentados o que permitiu que tudo fosse feito sem pressas nem sobressaltos. Ainda era noite quando o Frederico apanhou o Carlos Gonçalves na Estação de Campolide, perto das seis e vinte da manhã. Sem necessidade de pisar muito no acelerador, até porque caía uma chuva por vezes intensa, chegámos ao Pavilhão Gimnodesportivo do Entroncamento uma hora depois. Houve tempo para tudo, até para os “apertos” intestinais de última hora.
O nosso autocarro só partiria às dez para as oito. Entrámos no primeiro transporte com lugares disponíveis e aconchegámo-nos para “passarmos pelas brasas” até sermos descarregados junto ao Parque de Campismo de Constância. À boa maneira portuguesa o autocarro partiu com algum atraso.
Para algum espanto nosso verificámos que o dorsal indicava vinte e dois quilómetros para a distância do Trail Curto. No “briefing” da organização nada foi referido quanto a este pormenor.
Depois do discurso do Presidente da Câmara Municipal de Constância, com os habituais agradecimentos a todos os que contribuíram para pôr de pé mais uma edição dos Trilhos do Almourol, é dada o tiro de partida.
Cumprida uma volta inicial pela zona histórica desta simpática vila Ribatejana os atletas fazem-se à estrada, ou melhor dizendo, aos trilhos.
De acordo com as informações transmitidas no “briefing” iríamos ter pela frente um percurso pouco técnico, mais para rolar imersos na natureza, e sem grandes desníveis. É certo que, de vez em quando, somos presenteados com uma outra subida mais intensa, mas tão só isso. Analisando no final os dados técnicos da corrida, temos de admitir que um desnível positivo de subidas de 347 metros não é muito para uma distância total de vinte e cinco quilómetros (sim, na realidade foi esta a extensão total).
Esta prova cumpriu as expectativas dos atletas que, com menos preparação, esperam de uma corrida desta natureza. Resultado do inverno pouco rigoroso que tivemos os pequenos troços com lama ficaram muito aquém do que foi norma em anos anteriores.
Realmente esta foi uma corrida para desfrutar e conviver com os restantes atletas. Uma imagem de marca dos “trails” é o convívio e espírito de camaradagem entre os participantes. Não há pressão nas ultrapassagens mesmo que tenhamos um, ou uma, atleta a servir de tampão num “single trek” mais apertado. Os mais rápidos partiram à frente pelo que os que ficam para trás não estão muito preocupados com tempos e classificações. É lógico que se pudermos diminuir os nossos tempos de edições anteriores tanto melhor. Mas é esta a nossa verdadeira competição.
Quando já tínhamos percorrido mais de metade da prova começamos a avistar os Caminheiros que se afastam e abrem alas à nossa passagem. Trocas de cumprimentos e de incentivos ajudam-nos a manter, ou até a aumentar, o nosso ritmo.
Mais à frente somos ultrapassados pelos atletas do Trail Longo. É bom para ver como os atletas de elite se comportam e como abordam os diferentes obstáculos.
Os dois Tartarugas fizeram uma corrida bem próximos um do outro. Logo de início o Frederico ganha algum avanço. A sua passada constante, optando por andar em subidas mais exigentes, dá-lhe margem relativamente ao outro Tartaruga que só foi anulada no primeiro abastecimento. O Carlos Gonçalves optou por não parar e distanciou-se um pouco. Mas não por muito tempo pois, a certa altura, houve o companheiro sussurrar-lhe o nome da equipa. Aliás foi uma constante quando passávamos pelos Caminheiros, estes tecerem algumas considerações relativamente ao nome da nossa equipa. “Vivam as Lebres e Tartarugas”. “Eu sou uma tartaruga. Atrás vêm as Lebres”, respondemos nós.
E foi neste clima que o Trail Curto se foi desenrolando.
O Carlos Gonçalves olha para trás e nunca mais vislumbra o Frederico. Algum quilómetro mais à frente reagrupa-se a nossa equipa. O Frederico tinha aproveitado um dos abastecimentos para deglutir uma bela e retemperadora Bifana que até lhe deu asas para mais rapidamente chegar à companhia do resto da equipa.
Com algumas novidades no percurso começamos a aproximação à cidade do Entroncamento. Os dois últimos quilómetros são provavelmente dos mais duros, pelo menos em termos psicológicos. A passagem pelo Parque do Bonito logo seguida pela entrada na ciclovia, é feita sempre terreno plano. E como é duro um troço em plano quando as nossas pernas já querem tudo menos continuar a correr. O Pavilhão parece que nunca mais chega. É já ali. Mas o ali é tão longe…
Finalmente entra o Carlos Gonçalves no Pavilhão. Restam algumas dezenas de metros até cortar a meta, passadas cerca de três horas e vinte e cinco minutos desde a partida. Ainda no mesmo minuto o Frederico dá por concluída a sua corrida. Conseguiu fazer o seu segundo melhor tempo dos Trilhos ao Almourol. E desta vez não teve de ficar à espera algumas horas pelo seu companheiro de luta.
Os rostos dos dois Lebres e Tartarugas mostram um misto de sensações. Por um lado espelham a dureza da aventura agora terminada mas, ao mesmo tempo, reflectem a satisfação dos dois com a certeza de que no próximo voltarão,
Depois do banho retemperador segue-se o almoço. “Carne com esparguete” como bem recorda o Frederico das anteriores participações. Só que estava guardado um melhor segredo. Fomos presentados com uma bela FEIJOADA. Veio mesmo a calhar para recuperar as energias despendidas. E o Carlos Gonçalves, para repor os líquidos gastos, trocou a sobremesa por uma segunda imperial.
Com a barriga mais bem composta os atletas fazem-se à estrada. E o Carlos ainda aproveitou a viagem de regresso para pôr algum do sono em dia.
Adeus Almourol, até para o ano.
[Crónica de Carlos Gonçalves]
Vencedor: LUÍS CONTRERAS (Vitória FC Trail Running): 1:53:27
Atletas que concluiram a Prova: 316
Atletas | Dorsal | Escalão | Classificação Geral | Classificação Escalão | Tempo Oficial | Tempo Líquido | Ritmo min/Km | Velocidade Km/h |
Carlos Gonçalves | 744 | Masculinos | 218º | 185º | 3:25:05 | ND | 8:12 | 7,31 |
Frederico Sousa | 745 | Masculinos | 221º | 188º | 3:25:58 | ND | 8:14 | 7,28 |
NOTA: O Ritmo e a Velocidade média foram calculados em função dos tempos líquidos
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