“Terminei o Trail dos Moinhos Saloios e parece que não me correu muito mal…”
Foi com esta mensagem no WhatsApp das Lebres e Tartarugas que o Carlos Gonçalves comunicou que tinha concluído a sua segunda presença no Trail dos Moinhos Saloios. Mas já lá vamos quanto ao real significado desta frase.
Depois de uma primeira participação em 2016 esta foi a segunda vez que uma equipa, ainda que muito reduzida, das LEBRES E TARTARUGAS participou no Trail dos Moinhos Saloios disputada na União das Freguesias Venda do Pinheiro - Santo Estêvão das Galés. Relativamente à nossa anterior participação registaram-se algumas novidades. A primeira foi a alteração do local da partida, outrora no Campo de Futebol da Venda do Pinheiro, sendo agora no mais agradável e recentemente construído Parque Ecológico da Venda do Pinheiro. Seguramente que foi muito mais agradável. A segunda, e porventura a mais importante alteração, foi a ausência do Frederico que, devido a outros afazeres, e talvez com medo do intenso calor que se fez sentir em 2016, decidiu não fazer companhia ao outro Trailista habitualmente presente nesta modalidade de corridas.
O ambiente era de festa. Àquela hora estava o Presidente da Câmara de Mafra, a cujo concelho pertence esta simpática Vila, na distante cidade de Baku, no longínquo Azerbaijão, para receber a distinção de passagem a Património Mundial da Unesco do Convento de Mafra e de toda a Tapada em redor deste.
Contrariamente ao que é habitual o Carlos Gonçalves chegou mesmo em cima da hora de partida do Trail, tendo tido apenas tempo para estacionar o carro, dirigir-se ao local de levantamento do dorsal e correr para a partida. Foi um bom aquecimento, forçado. Enquanto aguardava pela partida constatou, com alguma dose de preocupação, que eram muito poucos os atletas concorrentes à prova de Trail. Teria de dar muita “corda aos sapatos” se não quisesse ter a companhia do “Vassoura” que iria fechar o pelotão dos atletas da corrida dos vinte e cinco quilómetros.
Depois das habituais instruções, não sem recordarem algumas atletas já desaparecidas e habituais participantes em provas organizados pelo Trilho Perdido, é dada a ordem de partida . Começamos o primeiro quilómetro deambulando por ruas adjacentes ao Parque Ecológico até entramos definitivamente em modo de trilhos. E, como é habitual, começamos logo com uma subida mais pronunciada em alcatrão. E como custam estas subidas quando os atletas ainda não aqueceram convenientemente. Mal tinham decorrido os primeiros dois quilómetros, estava eu pensar como seria a edição deste ano e quão exigente. Pois. Chegamos a um cruzamento e temos de virar à direita. Aguardava-nos o Trilho do Padre, nem mais nem menos que uma daquelas íngremes escaladas onde, por vezes, é conveniente e necessário entrar em modo de tracção total, isto é, com o recurso a pés e mãos para vencer as maiores dificuldades. Que mal fizemos nós ao Padre? Em vez de nos mandar rezar uns tantos “Padres-nossos” e umas quantas “Avé Marias” para espiarmos os nossos eventuais pecados, deram-nos um castigo bem maior. Porventura portámo-nos bastante mal. Vencido este primeiro "round"entramos em modo de descida, em zonas por vezes mais escorregadias, não pela existência de lama mas pelo piso muito seco e algo pedregoso. Enfim, deu para recuperar um pouco. E eis-nos de volta ao cruzamento onde iniciámos o Trilho do Padre. À direita aguarda-nos agora um novo desafio. O Trilho do Poste de Alta Tensão leva-nos a um dos pontos mais altos de todo o percurso. Como dizia uma antiga empregada dos meus avós, era um Poste de “Alta Traição”. E é que foi mesmo uma espécie de traição para todos nós. Não vale a pena reclamar. Na realidade estamos ali todos de boa vontade, ninguém nos obrigou a tal. Com as palavras do Bruno Laje no meu pensamento - “isto é jogo a jogo” - adoptei a táctica do “passo a passo”. E com os olhos postos no caminho e não no Poste colocado lá bem acima das nossas cabeças, passámos à fase seguinte. Normalmente depois de uma subida mais longa temos alguns momentos de maior descontracção com troços maioritariamente a descer, ainda que sendo necessária alguma atenção. Aguarda-nos um novo trilho: o“Trilho do Cão Mau”. Iríamos ter a visita de algum canídeo mais raivoso e que pretendesse vingar-se em nós? Não. Apenas encontrámos dois pequenos cães presos por uma corrente e do lado de dentro do portão. Estávamos salvos. Um pouco mais à frente temos a companhia de algumas galinhas de que de más nada tinham. Aliás, fugiram a sete "patas" de nós.
Passados os primeiros cinco quilómetros entramos, por breves momentos, em modo de alcatrão. Quase nem demos pela distância. E seguimos de Trilho em Trilho. Quando o calor começou, felizmente, a apertar, entramos no Trilho do Carrossel. Foi um troço em constante “sobe e desce”, como se se tratasse de uma diversão da extinta Feira Popular em Lisboa, e com a grande vantagem de ser praticamente todo à sombra.
A fazer jus ao seu nome o Trilho dos Montes Saloios tem um perfil orográfico constituído por constantes subidas e descidas à procura dos locais onde se encontram ou Moinhos antigos ou então as modernas “eólicas” que proliferam por estas zonas.
Subitamente saímos de um estradão para cumprirmos a “Subida do Multibanco”. O nome não nos era estranho da nossa anterior participação. Só que, surpresa das surpresas, a subida era, afinal, uma descida. É certo que o caminho era bastante acidentado, mas essa era a única dificuldade. E, no final da descida, lá fomos encontrar, à nossa esquerda, o famoso Multibanco.
Uma nota de realce vai para os muitos pontos de abastecimento onde além de líquidos nos foi servida fruta variada - bananas, laranjas e melancia - bem como doces e salgados. Muito bom.
Apesar de bem sinalizado houve situações em que alguns atletas se iam perdendo. Os Trails não são só subidas e descidas. São também uma prova de orientação. Por vezes há a tentação de seguir “cegamente” o parceiro que vai à frente sem olhar para as fitas e outro tipo de sinalização. Se um opta pela direcção errada decerto que não irá sozinho.
O Trail dos Moinhos Saloios deu para tudo. Logo de início comecei a “engendrar” na minha cabeça o tronco da crónica da corrida. Assim tomava mais atenção a todos os pormenores facilitando, e muito, a redacção da história final. E também deu para, numa subida mais longa, atender uma chamada via WhatsApp do meu filho Gonçalo que se encontra lá longe na República Dominicana. Foi, decisivamente, um grande empurrão para vencer os últimos obstáculos.
À passagem pelo último abastecimento informam-nos que faltam cerca de dois quilómetros. O Fim está próximo. É simultaneamente uma boa e uma má notícia. Boa porque o descanso está perto, mas má porque vai terminar uma corrida de que estávamos a desfrutar com grande gozo.
Quando entramos no último trilho ficamos a saber que as subidas terminaram. “Agora é sempre a descer até à meta”.
Regressados à civilização retomamos o alcatrão. Algumas centenas de metros mais à frente e reentramos no Parque Ecológico da Venda do Pinheiro onde começou a prova. Mas os derradeiros metros parece que são os que nos custam mais a passar. A Meta está ali mesmo à nossa frente, mas somos obrigados a dar uma volta pelos limites do Parque.
Ao cortar a meta, no meu derradeiro e habitual “sprint”, recebo uma notícia que me encheu de ânimo: “Vai ao Pódio. É o terceiro atleta do escalão M60”. Valeu o esforço. Mas como estou sozinho tenho de encontrar alguém que registe no meu telemóvel a minha subida ao pódio. Não foi difícil. Aliás não se trata de um problema para mim, situação pela qual passamos quando temos de pedimos a alguém para fotografar os elementos das LEBRES E TARTARUGAS, antes e depois de qualquer prova.
Terminada a cerimónia de entrega dos prémios corro, na medida do possível, em direcção ao meu carro. Desejava ardentemente informar no WhatsApp das LEBRES E TARTARUGAS que tinha terminado a prova.
“Terminei o Trail dos Moinhos Saloios e parece que não me correu muito mal…”
Foi o encerramento da época 2019/2020. A menos que surja alguma corrida de surpresa é tempo do merecido repouso. Isto não significa que termine por completa a actividade física.
[Crónica de Carlos Gonçalves]
Vencedor: NÉLSON AMARAL (AMCF - Arrábida Team): 2:08:52
Atletas que concluiram a Prova: 124
Atletas | Dorsal | Escalão | Classificação Geral | Classificação Escalão | Tempo Oficial | Tempo Líquido | Ritmo min/Km | Velocidade Km/h |
Carlos Gonçalves | 129 | M60 | 109º | 3º | 4:01:19 | ND | 9:39 | 6,22 |
NOTA: O Ritmo e a Velocidade média foram calculados em função do tempo líquido da prova.
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