Cada semana que passa temos um novo desafio. Os dois “trailistas” das Lebres e Tartarugas tinham programado para este fim-de-semana a sua participação no Trail Running Trilhos da Costa Saloia na zona de Mucifal - Colares. Foram surpreendidos pelo encerramento precoce das inscrições em virtude de se ter atingido número de vagas disponíveis. Como não podíamos ficar de braços cruzados a lamentar esta perda o Frederico, sempre ele, tratou de imediato de procurar uma prova alternativa e na modalidade de trail/todo o terreno. E, sabe-se lá como, descobriu o Trail da Barreira, cuja segunda edição estava programada para este último domingo.
Partimos à descoberta de uma nova corrida e numa nova localidade, fazendo jus ao nosso princípio de apadrinhar novas aventuras e de diversificar os locais onde nos dedicamos à nossa prática desportiva de eleição.
A Barreira, uma localidade às portas da cidade do Lis e anteriormente uma freguesia independente, integra a actual União das freguesias de Leiria, Pousos, Barreira e Cortes. Atendendo à hora prevista para o encerramento do Secretariado (8h45) tivémos de madrugar para chegar a tempo e horas e com alguma margem de manobra não fosse perdermo-nos no caminho. Tínhamos pela frente uma viagem a rondar uma hora pelo que, ainda mal o dia tinha começado, já os dois atletas se faziam à estrada, poucos minutos passavam das sete da manhã. Com muita conversa solta pelo caminho fomos surpreendidos com uma temperatura exterior bastante baixa a rondar os três graus, tendo, em alguns pontos, chegado mesmo aos dois graus centígrados. Para uma Primavera anunciada, e que fizera sentir os seus efeitos nas últimas semanas, estas condições contrariavam as nossas expectativas.
Sem grande “stress” houve tempo para estacionar o nosso veículo, procurar pelo Secretariado e levantar os nossos dorsais.
Antecedendo a partida simbólica das três provas – Caminhada, Trail10K e Trail25K – junto ao Centro Paroquial da Barreira, são dadas as primeiras informações aos atletas. Como o sistema de som decidiu não colaborar foi necessário que o orador de ocasião descesse do seu pedestal e se juntasse aos convivas para que, de forma mais percetível e com maior eficácia, pudesse passar a sua mensagem.
Pelas nove horas, mais coisa menos coisa, é dado o sinal para a primeira partida devendo todos percorrerem um curto trajecto até ao Cemitério da Barreira onde estava instalada a partida oficial.
Alguns aproveitam estas centenas de metros para um curto aquecimento. Uma vez mais todos os atletas são convidados a escutarem algumas palavras directamente relacionadas com as duas corridas.
Sendo uma prova de trail esperávamos, à partida, um trajecto mais exigente por comparação com uma corrida de estrada e com a mesma distância.
O gráfico altimétrico, e falando apenas da prova de vinte e cinco quilómetros, mostra-nos uma corrida aos” altos e baixos”. Apesar de não ter grandes troços planos encontrámos um percurso muito equilibrado. Num constante sobe e desce, depois de uma subida mais exigente tínhamos uma fase de recuperação e de algum descanso. Pior do que uma “montanha russa” de subidas e descidas é termos longos troços planos durante os quais o atleta é sempre chamado a puxar pelas pernas. Mas não foi esse o caso.
Com a partida simultânea para as duas corridas os engarrafamentos aconteciam sempre que tínhamos de ultrapassar algum obstáculo mais exigente ou quando os trilhos não nos deixavam grande margem de escapatória. Para quem ali estava para a prova dos vinte e cinco quilómetros o maior desafio era exactamente o de resistir a entrar em “altas cavalarias” indo atrás dos atletas do trail de 10 quilómetros. Caso não se fizesse uma conveniente gestão do esforço na primeira metade da corrida correríamos sérios riscos que poderiam comprometer a “performance” na fase mais derradeira.
Apesar do dia ter começado bastante fresco rapidamente a temperatura exterior se aproximou de níveis mais condizentes com o tempo das últimas semanas. Felizmente, principalmente para o Frederico, que as sombras abundavam em virtude do grande aglomerado de árvores através das quais se desenrolava a maior parte da corrida.
No final de uma longa e acentuada descida em alcatrão dá-se a separação dos atletas das duas distâncias. Os aventureiros da corrida dos vinte e cinco quilómetros perdem a companhia dos menos afoitos e passam a correr sozinhos durante períodos mais longos. Começa uma nova corrida. Poderemos até afirmar que a primeira fase foi de aquecimento para os restantes quinze quilómetros. Mas o essencial manteve-se. Um percurso bem engendrado e sem entrar em loucuras de grandes escaladas ou de descidas radicais. Uma prova de trail não tem de ser necessariamente apenas para os mais dotados e mais destemidos. E pensamos que o Clube de Atletismo da Barreira, na sua qualidade de organizador da prova, pretendeu montar uma corrida de trilhos, sim senhor, com algumas dificuldades mas que desse, acima de tudo, um enorme prazer aos participantes e que lhes deixasse a vontade de voltar na próxima edição. Para os “humildes” Tartarugas foi uma corrida bem equilibrada e sem dureza excessiva, não obstante um atleta nos ter confidenciado no final que tinha achado que o Trail da Barreira tinha sido muito desgastante. Cada um tem a sua opinião.
Mas uma corrida é também feita de episódios. E o Trail da Barreira até foi fértil neste aspecto para os representantes das Lebres e Tartarugas.
Comecemos pelo Carlos Gonçalves.
Derivado da sua lesão na coluna que lhe tem afectado a perna esquerda, mas provavelmente também causado por um excesso de esforço cometido na primeira metade da corrida, ao quilómetro quinze começou a sentir algumas cãibras. Tropeçou num qualquer ramo ou raíz escondido no meio das folhas de eucalipto que jaziam ao longo do caminho e, quando se tentou levantar, ficou com a perna esquerda completamente presa e com cãibras por todo o lado. A muito custo, e com alguma calma, conseguiu retomar a corrida. De tempos a tempos novos, e cada vez mais frequentes, sinais de fadiga muscular perturbavam o seu andamento. Chegou a estar “em cima da mesa” a hipótese de desistir da corrida. Mas um desportista nunca desiste, só quando for mesmo obrigado. E, enquanto dependesse apenas de si, essa decisão nunca seria tomada. Apesar de estar a ser constantemente ultrapassado por atletas mais atrasados lá ia continuando fazendo mentalmente a contagem decrescente dos quilómetros finais. No último abastecimento, e quando já só faltavam perto de cinco mil metros para o final, recebeu de um outro atleta uma pastilha de magnésio que certamente lhe iria permitir contornar o problema das cãibras. Também animado pelo apoio da equipa desse abastecimento decidiu atacar com confiança a etapa final. Nos troços planos ou ligeiramente a descer conseguia fazê-los a correr em ritmo de descontracção. Nas subidas optou por andar e sempre a massajar os músculos afectados. A pior fase tinha ficado para trás. Sentia, e mentalizava-se, que só se acontecesse algo de extraordinário é que não levaria a bom porto esta missão. E com a meta à vista até se encheu de ânimo para conseguir terminar os vinte e cinco quilómetros como se nada tivesse acontecido.
Quanto ao Frederico os episódios em que esteve envolvido foram completamente diferentes.
Como todos sabemos o Frederico é, de todos nós, o único que encara as corridas completamente na desportiva. Tempos não são com ele (o calor também não). Só se preocupa em divertir-se. Assim, logo nos primeiros quilómetros, e numa zona de ultrapassagem de uma subida mais exigente, o Frederico, como bom cavalheiro que é,deu uma “mãozinha” a uma atleta ajudando-a a avançar. E depois deu mais uma outra “mãozinha”. E a seguir veio outra, e outra, e outra … Parece que foram mais de dez “mãozinhas". Um verdadeiro Gentleman.
Numa fase mais adiantada da corrida o Frederico é protagonista de novo episódio só que, desta vez, bem menos agradável. Ao passar perto de uma senhora que se fazia acompanhar por um cão sem trela o animal decidiu dirigir-se com ar ameaçador ao nosso atleta. De imediato a dona do cão afirmou convictamente que estivesse descansado pois o seu canídeo nunca mordera alguém. Pois, mas para tudo há uma primeira vez, mesmo para um humilde cachorro. E o Frederico foi a primeira vez. As marcas dos dentes ficaram gravadas na perna que se encontrava mais à mão do animal. O Frederico só perguntou se o animal tinha as vacinas em dia e lá continuou a sua corrida.
Mais à frente, e na travessia de uma estrada em direcção a uma Bomba de Gasolina, passou por um elemento feminino da organização e, ao ver que estava a saborear-se com uma garrafa de cerveja na mão, pediu-lhe uma “boleia” e bebeu alguns goles do precioso líquido. Depois de saciada a sede seguiu “à sua vidinha”.
Com o outro Tartaruga à espera chegou finalmente à meta e deu por concluída a sua participação no Trail da Barreira.
Enquanto recuperava do esforço despendido comenta a mordidela de que tinha sido alvo. Com a descrição que deu do animal e da dona ficou a saber que aquele bicho já tinha outros antecedentes pelo que o Frederico afinal não tinha sido a vítima estreante de mordidelas do cão.
Depois de deglutidos alguns pães com chouriço os dois atletas regressam à sua viatura com uma enorme satisfação estampada nos seus rostos e com a vontade de aqui regressarem em 2016.
Atletas que concluiram a prova: 165
Vencedor: DÉLIO FERREIRA(Juventude Vidagalense) - 1:55:38
FREDERICO SOUSA (Dorsal Nº126)
Classificação Geral: 164º-Classificação no Escalão M50: 18º
Tempo Oficial: 4:28:06/Tempo Cronometrado (Tempo do Chip): 4:27:56
Tempo médio/Km: 10m:43s <=> Velocidade média: 5,60 Km/h(*)
CARLOS GONÇALVES (Dorsal Nº125)
Classificação Geral: 159º-Classificação no Escalão M50: 17º
Tempo Oficial: 4:08:58/Tempo Cronometrado (Tempo do Chip): 4:08:48
Tempo médio/Km: 9m:57s <=> Velocidade média: 6,03 Km/h(*)
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