Sábado, 23 de Fevereiro de 2019

MARATONA DE SEVILHA

Em Outubro passado os três fundadores das LEBRES E TARTARUGAS tomaram uma decisão que há muito andava nas suas cabeças mas que nunca tinham concretizado. Tratava-se da primeira internacionalização através da participação numa prova no estrangeiro.

 

É certo que pelas mãos, ou mais exactamente pelas pernas, do nosso atleta Georg o nome da nossa equipa já apareceu em algumas corridas nos “States”. No entanto faltava aos nossos Fundadores darem finalmente esse passo.

 

E quando se aproxima a comemoração dos dez anos da existência da nossa equipa decidimo-nos, finalmente, a sair deste nosso pequeno rectângulo no extremo ocidental da Europa. A prova eleita foi a Maratona de Sevilha pois reunia um conjunto de atributos:

 

  • Ser uma Maratona (prova rainha do Atletismo e que qualquer praticante secretamente ambiciona fazer)
  • Realizar-se bastante perto de Lisboa, a menos de quinhentos quilómetros, permitindo-nos viajar de carro na véspera e regressar no próprio dia após a corrida
  • Ter um preço acessível
  • Percurso bastante plano (segundo a organização trata-se da Maratona mais plana da Europa)
  • Disputar-se numa altura do ano em que as condições meteorológicas afastam, pelo menos teoricamente, cenários de temperaturas elevadas

 

E mal soube desta notícia o João Valério decidiu logo acompanhar-nos nesta aventura, ele que ainda não se tinha estreado na distância da Maratona. Estava assim reunida a ala mais veterana das LEBRES E TARTARUGAS.

 

Muitos negócios fazem-se à mesa. E foi esse o local escolhido para, ainda em Outubro, começarmos a preparar todos os detalhes. O primeiro passo a dar era a nossa inscrição na prova. E também começámos logo a pensar no alojamento.

IMG-20181018-WA0001.jpg

O tempo foi passando e a excitação também. Cada um começou a procurar um plano de preparação que se lhe mais adaptasse. Sim, porque fazer uma prova com mais de quarenta quilómetros exige mais do que umas simples e esporádicas corridas ao fim de semana.

 

A cada prova em que íamos participando o tema Maratona de Sevilha vinha sempre ao de cima. E mal tinha começado o mês de Janeiro assegurávamos o nosso alojamento em Sevilha.

 

Entretanto os nossos atletas continuavam a sua preparação, não sem alguns percalços pelo meio.

 

E finalmente chegou o grande dia.

 

Mais importante do que dormir bem na véspera da corrida é fundamental descansar na sexta-feira, fim de uma semana de trabalho. E como a viagem não seria muito longa também não havia necessidade de madrugar.

 

Há um primeiro encontro às dez da manhã em casa do Frederico onde se juntam o Carlos Teixeira (motorista de serviço) e o João Valério. Um quarto de hora depois partem até ao Centro Sul para apanharem o Carlos Gonçalves. Agrupada toda a equipa aí vamos nós rumo à tão almejada Sevilha.

 

Por volta das 13 horas fazemos uma primeira paragem ainda em solo português para almoçar. O local escolhido foi o “Índio” em Vila Nova de Cacela. Começa aqui o nosso estágio de concentração para a Maratona.

IMG_20190216_130507.jpg

De barriga cheia regressamos ao nosso meio de transporte. O Frederico assume então o seu lugar de navegador oficial. Como não confiava no GPS do carro decide recorrer ao Waze que lhe é bastante mais querido e no qual vê grande fiabilidade. Estamos às portas de Sevilha e o emaranhado de estradas, desvios e cruzamentos é grande. Até que o GPS do carro nos manda para um lado e o Waze do Frederico para o outro. A confusão parece estar instalada. Mas não.

 

Finalmente chegamos ao Pavilhão de Exposição e Congressos de Sevilha (FIBES). Tudo dentro da hora e sem qualquer “stress”.

IMG_20190216_165429.jpg

Deu tempo para levantarmos os nossos “kits” de participação, ver a exposição e tirar algumas fotografias para mais tarde recordar este momento alto das nossas carreiras atléticas.

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Cumprida a primeira etapa partimos em direcção ao hotel Vertice. Foi bastante mais simples. E, com alguma surpresa, constatamos que começamos a entrar numa onda positiva. Conseguimos descobrir o único lugar livre e não pago e a escassas dezenas de metros do nosso Hotel.

 

Feito o “checkin” dedicamos algum tempo a recuperar da viagem deste dia que esteve muito longe de ser extenuante.

 

Não foi necessário procurar muito para encontrarmos um restaurante para o nosso segundo momento do estágio/treino para a Maratona do dia seguinte. Mesmo em frente ao nosso Hotel encontrámos o local perfeito.

IMG-20190216-WA0005.jpg

Depois de acordarmos às seis da manhã (hora espanhola), o “desayuno” foi arrumado com alguma calma.

 

Mas permanecia uma incógnita. Como nos iríamos deslocar até ao local da partida. O nosso hotel estava a cerca de oito quilómetros do Paseo de las Delicias.

 

O Frederico optou por jogar pelo seguro e decidiu logo contratar os serviços da UBER. Só que entretanto pára mesmo em frente ao nosso hotel o autocarro da carreira 22 que nos levaria até bem próximo do local da partida e com a vantagem de ser grátis para os atletas da Maratona. Perfeito. Só que não o foi totalmente pois o Frederico não conseguiu em tempo útil cancelar o UBER sendo obrigado a pagar a taxa mínima.

 

Eram sete e meia da manhã e o céu ainda se encontrava muito escuro. Estranho quando à mesma hora em Lisboa já há sinais de dia.

O movimento de atletas era grande, o habitual em provas de Maratona. Houve tempo para tudo. Até para a nossa foto oficial com os atletas prontos para a Maratona.

IMG_20190217_080518.jpg

 

Como é habitual os atletas são dispostos por zonas consoante os tempos expectáveis. Dá-se a primeira separação das LEBRES E TARTARUGAS. O Carlos Teixeira dirige-se para o compartimento cinzento reservado aos que previam completar a prova entre 3 horas e 45 e 4 horas. Os restantes encaixam-se no último compartimento destinado aos que esperavam gastar mais de quatro horas.

 

Mesmo para os mais experimentados há sempre algum nervosismo. O mais nervoso era sem dúvida o João Valério. Nunca tinha feito uma maratona. E estrear-se aos sessenta e quatro anos era de “homem”.

 

E, finalmente, é dado o tiro de partida.

 

A Maratona é uma prova de resistência física mas, sobretudo, psicológica. Não basta ter pernas. É preciso, e muito, que a cabeça funcione. Os primeiros quilómetros são de aquecimento e para encontrar o ritmo mais equilibrado. Mas também sabemos que, ao longo destes mais de quarenta quilómetros, nem tudo vão ser facilidades. Muitas vezes lá aparece o tão anunciado e odiado “muro” por volta dos trinta quilómetros, altura em que somos postos à prova e obrigados a escolher entre desistir, com todas as marcas que vão ficar para sempre gravadas no nosso consciente, ou atacar a última dúzia de quilómetros e sentir a profunda alegria de cortar a meta. Uns abrandam o ritmo e, momentaneamente, calcorreiam algumas centenas de metros a andar. Outros não param, não andam e continuam sempre a correr até à meta.

 

Tomamos consciência de que as nossas pernas não estão tão mal como supúnhamos. Pois é. O que nos comanda é a cabeça e a férrea vontade de vencer um desafio. E se a cabeça estiver “limpa” conseguimos superar todos os obstáculos rumo à tão almejada meta.

 

E é nesta fase que o apoio do público é mais importante. Os gritos de apoio de todos os que se perfilam ao longo do percurso – “Vocês são verdadeiros campeões, ânimo, fuerza" – põe-nos os cabelos em pé. Os miúdos, e por vezes também alguns graúdos, esticam os seus braços para lhe batermos nas mãos em jeito de cumprimento à nossa passagem. Tudo isto contribui de tal maneira que até, pelo menos durante alguns momentos, aumentamos o nosso ritmo, alargamos a nossa passada. É por tudo isto que uma Maratona é uma prova difícil, muito difícil, mas, ao mesmo tempo, muito bela.

 

E, depois de terminada, o prazer e o enorme orgulho com que contamos aos nossos familiares, aos nossos amigos e até aos nossos colegas, que terminámos uma Maratona assume-se como a verdadeira recompensa de tudo aquilo por que passámos nos últimos dois a três meses. Sim porque fazer uma Maratona não é só correr quarenta e dois quilómetros e cento e noventa e cinco metros. É muito mais. É cumprir um rigoroso e ambicioso plano de treinos que nos dará alguma garantia de conseguirmos superar este “enorme” desafio. Para todos eles passamos a ser heróis. E como nos dá um grande gozo.

 

Antes da partida eu dizia para o João Valério a satisfação que ele iria ter ao contar ao seu neto que tinha feito uma Maratona, um desafio que não está ao alcance de todos.

 

 Mais uma prova a juntar ao currículo das LEBRES E TARTARUGAS. Todos estavam satisfeitos no final. O Carlos Teixeira ficou, uma vez mais, abaixo das quatro horas. E se tivesse acelerado um pouco mais tinha estabelecido o seu melhor tempo. O Frederico teve o melhor desempenho de sempre. O Carlos Gonçalves melhorou face à sua última maratona.

 

Mas coloco em lugar de destaque o nosso atleta João Valério. O que conseguiu foi enorme. Fazer a sua primeira maratona aos sessenta e quatro anos (atenção que não o estamos a chamar de velho) e conseguir um tempo de quatro horas e vinte minutos é obra. Que me perdoem os restantes Tartarugas mas o João foi o grande vencedor desta nossa primeira internacionalização.

 

Depois do reencontro fomos levantar orgulhosamente a nossa camisola de “Finisher”.

 

De medalha ao peito posamos para a posteridade e enviamos de imediato a fotografia via WhatsApp para os nossos seguidores.

IMG-20190217-WA0003.jpg

Há ainda que regressar ao nosso Hotel. E continuando na nossa boa onda chegamos à paragem do “Autobus” mesmo a tempo de apanhar a carreira 22. Tudo a funcionar em pleno.

 

Depois do banho e massagens retemperadores vamos ao almoço. E como fomos muito bem servidos na véspera voltamos à Cafeteria/Cerveceria José Alberto tal como tínhamos prometido depois do jantar de ontem.

IMG-20190217-WA0004.jpg

Foi o nosso treino de recuperação activa. Tínhamos ainda perto de quinhentos quilómetros pela frente.

 

Com apenas uma paragem numa área de serviço para encher o depósito ainda chegamos a tempo de jantar com as nossas famílias.

 

A nossa participação na Maratona de Sevilha foi a nossa maior aventura. E muitas, certamente, se seguirão. Durante a viagem lançámos para o ar alguns desafios. Uns propunham a participação na Maratona de Bilbao à noite. Outros atiravam-se para mais longe tendo como alvo a Maratona de Copenhaga. O tempo o dirá.

[Crónica de Carlos Gonçalves]

 

Vencedor: TSEDAT ABEGEAYANA (Individual): 2:06:36

 Atletas que concluiram a Prova: 9118

 

Maratona de Sevilha - Quadro de Tempos.png

(*) - O Tempo médio/Km e a Velocidade média foram calculados em função dos tempos cronometrados (tempo do chip)

Calendário do Mês de Fevereiro

  • 17 - Maratona de Sevilha (Sevilha) - 42,195 Km
  • 24- Grande Prémio do Atlântico (Costa da Caparica) - 10 Km
publicado por Carlos M Gonçalves às 00:13

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