A Serra de Monsanto é um Tesouro escondido às portas da cidade de Lisboa.
Esquecida durante vários anos foi inicialmente descoberta pelos amantes da arte equestre que aqui encontraram o cenário ideal para os seus longos passeios a Cavalo, em caminhos especificamente contruídos para esse fim, e sem terem de se deslocar para outras zonas bem mais distantes da cidade onde habitavam.
Mais tarde, e já na passagem para o novo milénio, foi a vez dos praticantes de BTT descobrirem um novo paraíso alternativo às muito procuradas Serras de Sintra e da Arrábida. E como os passeios a cavalo caíram em desuso os anteriores caminhos foram ocupados pelas bicicletas de montanha. E, através deles, partiram à descoberta de novos trilhos. Aos fins-de-semana grandes hordes de BTTistas conferiam uma nova animação á Serra de Monsanto.
Entretanto a Corrida começou a estar na moda. Com a proliferação de provas também este local de culto não passou incólume à "nova Ordem”. Começam a surgir provas de corrida em estrada que se desenvolvem dentro deste admirável mundo novo. Mas todas elas desenrolavam-se essencialmente em alcatrão ao longo da grande rede rodoviária existente.
O Trail Running começa a “roubar” atletas às provas de estrada. Mas Monsanto ainda não fazia parte do calendário de provas desta nova tendência.
Só com a organização da Lisbon Eco Marathon é que nos são apresentados caminhos alternativos aos principais eixos viários existentes.
Mas, tirando a existência de alguns troços com um declive mais desgastante, ainda não encontrávamos nesta prova a dureza e a tecnicidade próprias de uma Corrida de Trail.
A organização do Lx Trail Monsanto veio preencher uma lacuna há muito identificada. E foi com esta ideia que o Frederico e o Carlos Gonçalves decidiram inscrever-se nesta nova prova à qual tinham passado completamente à margem desde que a mesma se começou a realizar. A procura constante de novos cenários faz parte da política de participações que este duo muito preza.
Inscreveram-se na prova do Trail Longo. Os 23 quilómetros e o perfil altimétrico pareciam ser adequados às actuais capacidades destes atletas. Um desnível positivo de 525 metros para uma distância de perto de vinte e três quilómetros tornavam esta prova, pelo menos no papel, bastante acessível. Trilhos demasiado técnicos certamente que não iriam aparecer em grande escala, pelo menos era esse o sentimento que estes dois atletas tinham pelo pouco que conheciam seja da Lisbon Eco Marathon ou fosse de alguns passeios de BTT do Carlos Gonçalves.
Tendo previamente levantado os respectivos “kits” de participantes os dois Tartarugas não tinham necessidade de madrugar e aproximarem-se do local de partida muito cedo. Assim combinaram encontrar-se por volta das nove e um quarto, nove e vinte em casa do Frederico. Um pouco mais tarde do que o previsto partiram de imediato até à zona onde se iniciariam as provas. E como os locais da partida e da chegada não coincidiam optaram por tentar parquear a viatura e meio caminho entre ambos, de preferência o mais perto possível da Meta. Com o cansaço acumulado quanto menos tivessem de percorrer até ao carro tanto melhor. No meio da nova Cidade Universitária da Ajuda certamente que seria fácil arranjar um bom estacionamento. Até ao local da partida ainda tínhamos de percorrer algumas centenas de metros. O que valia é que era sempre descer. Tanto pior dado que após a partida teríamos de imediato que vencer um grande desnível até atingirmos um dos pontos mais altos do percurso.
Como tem sido habitual a animação era grande. E fazendo uns cálculos de cabeça o Frederico estimou que, contando Trail Longo, Trail Curto e Caminhada, não andaríamos muito longe se estivessem ali mais de 1000 pessoas. Este número acabou por confirmar-se mais tarde com a publicação das classificações das duas provas. No Trail Longo terminaram 349 atletas enquanto que no Trail Curto chegaram ao fim 641 atletas. Tudo somado deu um número redondo de novecentos e noventa participantes. Se somarmos ainda os muitos caminheiros facilmente se conclui que o número avançado pelo Frederico foi bastante pulverizado.
Um pouco depois das dez da manhã, como já é habitual verificar-se um atraso no horário, partiram os que desafiavam a distância maior. Dez minutos mais tarde partiriam os atletas do Trail Curto e logo seguidos pelos participantes na Caminhada.
Sempre a subir não houve ninguém que não chegasse ao fim do primeiro quilómetro sobejamente aquecido. Atravessamos a Estrada do Penedo e começamos a mergulhar nas profundezas da Serra do Monsanto, não sem antes passarmos por dentro das instalações do Restaurante dos Montes Claros.
Começamos por tomar um dos muitos trilhos de bicicleta ladeados por vedações em madeira. Subitamente viramos à direita para enfrentarmos a primeira subida mais radical. A partir deste ponto tudo começou a ser possível. E à medida que íamos avançando nos quilómetros descobríamos um mundo novo para explorar e desfrutar ao máximo. Perdemos a noção de onde nos encontrávamos. Aqui e acolá reconhecíamos alguns trechos da Lisbon Eco Marathon. Mas logo mais à frente entrávamos em novos “single treks”. A densa vegetação e a grande irregularidade do terreno não nos permitiam grandes distracções. Por volta dos cinco ou seis quilómetros, pensamos nós, encontramos o primeiro abastecimento, muito desejado pelo Carlos Gonçalves que se tinha esquecido do seu kit de sobrevivência em casa. Sem água e sem as habituais barras energéticas tinha de dosear ao máximo o esforço.
Mas voltando ao percurso marcas quilométricas foram coisa que não existiu. E como ninguém tinha por perto um relógio com medição da distância andámos um pouco às cegas. Mas nem por isso este Trail foi menos interessante. Estávamos assim completamente desligados do “stress” do tempo. Foi exactamente como muitas das pessoas que tiram o relógio do pulso ao fim de semana.
Andamos pelas imediações do Parque da Serafina. Será que iríamos enfrentar aquela terrível subida mesmo ao lado da A5 em direcção ao Estádio Nacional? Este era o troço quiçá mais difícil da Lisbon Eco Marathon. Ou seríamos poupados a este desafio? Talvez.
Após alguns “sobe e desce” visualizamos uma pequena placa informativa. “Aqui começa o Prémio da Montanha”. Ali estava aquela subida na qual tínhamos pensado e a que julgáramos ter escapado. No final temos o controlo de passagem dos atletas. Estavam cumpridos quinze quilómetros. Chegados à Estrada da Bela Vista temos de entrar em novo trilho. Mas, talvez pelo cansaço ou por estar distraído, o Carlos Gonçalves decidiu seguir pelo alcatrão até encontrar um grupo de Escoteiros. Estranho. Não só não via qualquer fita sinalizadora do percurso como também não enxergava mais atletas. Algumas centenas de metros mais à frente vê o seu colega Frederico a chegar à estrada proveniente de um trilho à direita. Pois é, tinha-se perdido.
Ultrapassada a fase mais desgastante ainda nos esperam cerca de quatro a cinco quilómetros até à Meta. Voltamos a encontrar mais um troço da Lisbon Eco Marathon ao corrermos ao lado de um muro limite da Faculdade de Agronomia. A Alameda Keil do Amaral é o nosso próximo destino. O desgaste acumulado começa a apresentar a factura. As primeira cãibras avisam que temos de abrandar um pouco. Finalmente entramos por num último trilho que só termina perto da Meta instalada na avenida da Universidade Técnica.
Cansados. “Afinal foi bem mais dura do que esperava”, comenta o Frederico. Mais tarde verificaremos que o desnível positivo acumulado foi, afinal, de 719 metros. Bem acima dos 525 adiantados na página oficial da prova. E o Sol também fez das suas. Mas estão bastante felizes com esta sua nova aventura. Uma certeza paira nas nossas cabeças. No próximo ano voltaremos. Para o Carlos Gonçalves o Lx Trail Monsanto entrou na galeria das Corridas Obrigatórias. Provavelmente que o mesmo se passará com o Frederico.
Terminou mais uma etapa importante das nossas vidas desportivas. E, como dizia o anúncio dos filmes Kodak, “para mais tarde recordar”.
Até para o ano Lx Trail Monsanto.
Atletas que concluiram a Prova do Trail Longo: 349
Vencedor: HÉLDER GROSSO (U.F.Comércio e Indústria Atletismo): 1:36:53
CARLOS GONÇALVES (Dorsal Nº 468)
Classificação Geral: 323º - Classificação no Escalão M6099: 10º
Tempo Oficial: 3:14:00/Tempo Cronometrado (Tempo do Chip): 3:13:19
Tempo médio/Km: 8m:24s <=> Velocidade média: 7,14Km/h (*)
FREDERICO SOUSA (Dorsal Nº 469)
Classificação Geral: 315º - Classificação no Escalão M5059: 49º
Tempo Oficial: 3:11:28/Tempo Cronometrado (Tempo do Chip): 3:10:47
Tempo médio/Km: 8m:18s <=> Velocidade média: 7,23Km/h (*)
(*) - O Tempo médio/Km e a Velocidade média foram calculados em função dos tempos cronometrados (tempo do chip)
Calendário do Mês de Maio
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