A vida é feita de momentos. E por vezes são os pequenos momentos que fazem com que a nossa vida tenha e faça mais sentido.
Temos o dever, para não dizer a obrigação, de procurar constantemente motivos para que a nossa vida seja plenamente preenchida e para que mais tarde não nos arrependamos de não termos ousado um pouco mais e de termos deixado por fazer acontecer a nossa vida.
Tudo isto vem a propósito da nossa participação no Sintra Trail Monte da Lua.
Em 2022 participei com o Frederico na segunda edição do Sintra Trail Monte da Lua. Mais do que um trail curto teve a particularidade de se realizar à noite no deslumbrante cenário da Serra de Sintra. Sintra é mágica como já tem sido profusamente referido. Tem uma envolvência e um encanto indescritíveis adorado não só pelos Portugueses mas também pelos muitos cidadãos de outros Países que muitas vezes escolhem esta pacata Vila para visitar ou, até mesmo, para assumirem como a sua residência habitual.
A nossa participação em 2022 no Sintra Trail Monte da Lua guardou um lugar no nosso coração assumindo-se como uma prova a não perder.
Este ano vi-me sozinho na inscrição nesta prova. Sozinho ou acompanhado era obrigação minha inscrever o meu nome na terceira edição do Sintra Trail Monte da Lua. Mas decidi incentivar mais alguém a fazer-me companhia. Podia até não ser no Trail de 10 quilómetros, mas, pelo menos, teria companhia na noite de 21 de Outubro na deslocação a Sintra.
Foi assim que consegui uma representação mais alargada nesta aventura com a inscrição de três pessoas na Caminhada de cinco quilómetros: Ana Luísa, Catarina e Belmira, colega de Escola da Ana Luísa.
Ainda tinha inscrito o Pedro, o Afonso e o António, mas compromissos ou imprevistos de última hora impediram-me de poder contar com eles.
Mesmo assim já partia para Sintra com uma comitiva mais composta.
As provas em que estávamos inscritos eram apenas o pretexto para nos deslocarmos a Sintra numa noite de Outono em que a chuva prometia marcar presença.
Chegámos com bastante tempo de antecedência. A primeira prioridade era encontrar um lugar para estacionar o nosso carro. Tarefa fácil para quem costuma habitualmente marcar presença em provas com Partida em Sintra. E ir a Sintra e não visitar a Casa Piriquita para comprar as tradicionais Queijadas e Travesseiros é como ir a Roma e não ver o Papa.
Como tínhamos margem de manobra ainda tivemos tempo para um curto lanche à base de Café e de um dos tradicionais doces de Sintra.
Ofereci-me para ir deixar as nossas compras no nosso carro. Não fazia sentido fazer a Corrida ou a Caminhada com os doces nas nossas mochilas, ainda por cima com a perspectiva de chuva para aquela noite.
Às oito horas da noite partem os atletas do Trail de Dez quilómetros. Após uma volta inicial voltamos a passar pela casa da Partida onde, no lado esquerdo e junto à vedação, encontro as minhas companheiras da Caminhada. Foi um até já. Eu tinha de percorrer o dobro da distância das minhas companheiras. Mas quem chegaria primeiro?
Logo no início presenciamos o espectáculo maravilhoso das luzes das lanternas/frontais dos muitos atletas. Parecem iluminações de Natal. Um cenário fabuloso apesar de habitual em provas disputadas à noite.
Um pouco mais à frente entramos definitivamente na Serra de Sintra e em modo de Trail. Foi um percurso substancialmente diferente do do ano passado. Talvez até mais exigente. O Ponto alto foi a passagem pela Quinta da Regaleira e pelo seu tradicional poço.
A expectativa manteve-se em alta.
A chuva marcava presença logo desde o início. Mas Sintra sem chuva não é muito normal.
Todo o Trail foi feito sempre em companhia de outros atletas. No total, e no conjunto das várias modalidades, eram cerca de duas mil pessoas. Esperava, mas nunca aconteceu, cruzar-me algures com os participantes das caminhadas à semelhança da edição do ano passado.
Passava pouco mais da hora e meia de corrida quando corto a meta. Tinha de enfrentar com alguma resistência a espera pelas atletas da Caminhada curta. A sopa e o chá quentes que nos deram no final da prova contribuíram para amenizar a situação.
Cerca de uma hora e vinte minutos após a partida chegam as minhas atletas caminheiras. A felicidade estava espelhada nos respectivos rostos. Tinham gostado e muito. E no próximo ano querem voltar a marcar presença. Até pode ser que o Afonso, o António e o Pai Pedro também apareçam.
E até uma colega da Ana e da Belmira, quando lhe contaram as peripécias deste programa em Sintra, fez questão de nos acompanhar em 2024.
Até lá ainda podem surgir outras oportunidades de convívio com a Natureza.
Foi Bom, MUITO BOM.
[Carlos Gonçalves]
Correr e completar uma Maratona é o supremo desejo de qualquer atleta adepto das Corridas de Estrada. Poucos são os que se abalançam de “peito feito” a esta tremenda aventura que, quando completada, nem que seja apenas por uma vez, servirá de algo que mais tarde podemos transmitir aos nossos filhos, ou mesmo aos nossos netos. E este é um tema que podemos também abordar em conversas com amigos salientando o nosso feito ao termos conseguido terminar uma ou mais Maratonas.
Fazer uma Maratona não é uma tarefa fácil. Não podemos considerar que é o mesmo que fazer duas Meias-Maratonas de seguida. Longe, muito longe, disso.
Quando me dispus a fazer uma Maratona lembro-me de ter lido, num daqueles muitos artigos que encontramos na Internet, que o nosso organismo não está fisiologicamente preparado para concluir a mítica distância dos 42,195 quilómetros. É necessário seguir com algum rigor um Plano de Treino com uma duração entre três a quatro meses. A disciplina é um dos trunfos necessários a quem se dispõe a abraçar uma prova desta envergadura.
No meu currículo conto com doze Maratonas repartidas entre Lisboa e Porto e com uma acção na Maratona de Sevilha em 2019. Daí para cá segue-se um longo interregno motivado pela cirurgia ao Menisco no meu joelho esquerdo que me impediu de marcar presença na Maratona de Lisboa em Outubro de 2019 e em Sevilha em Fevereiro de 2020 provas nas quais estava inscrito.
O Covid19 veio a contribuir para a anulação de muitas provas pelo que só agora começamos a entrar na normalidade.
O meu regresso à Maratona de Lisboa deveu-se, essencialmente, à minha vontade em testar o comportamento do meu joelho após a acima indicada intervenção cirúrgica. Mais do que concluir novamente uma Maratona, este desafio assumia uma particular importância. Será que com os meus sessenta e sete anos de idade, e com uma operação pelo meio, ainda seria capaz de abraçar novamente esta aventura?
No final de Julho peguei num dos Planos de Treino para a Maratona que já tinha encontrado há alguns anos e decidi meter “mãos à obra”. O facto de coincidir maioritariamente com o meu período de férias dava-me alguma vantagem. Porém nem sempre consegui cumprir as diferentes etapas do Plano de Treinos. Mas foi melhor do que nada fazer. Sim porque treinar para uma Maratona não é só fazer algumas corridas de média distância. É necessário algo mais.
E foi com o meu pensamento no dia 8 de Outubro que me aventurei ao cumprimento do meu Plano de Treinos. Não fixei qualquer objectivo em termos de completar a prova em determinado tempo. Terminar, e sempre em passo de corrida, era aquilo a que me propunha. Tudo o que conseguisse a mais era para mim já uma grande vitória.
E, finalmente, chegou o grande dia. Aguardava com alguma, para não dizer grande, ansiedade pelo dia da corrida. Era a prova dos nove para a preparação que consegui levar à prática.
No final da tarde do Sábado, véspera da Maraton,a começam a surgir notícias versando a antecipação da hora de partida para as 7 da manhã, ou seja, uma hora mais cedo do que o previsto. A temperatura elevada prevista para Domingo lançava alguns alertas. Esperava-se uma temperatura elevada cujos efeitos maiores se deveriam repercurtir quando a maioria dos atletas estivesse sensivelmente a meio da prova. Consultada a página oficial da Maratona não encontrava nada sobre este tema. Fosse nas Redes Sociais, fosse nos órgãos da Comunicação Social, a antecipação da hora de partida era dada como um dado adquirido. No entanto optei por me manter tranquilo e considerar que não iria haver qualquer alteração na hora de partida, até que recebesse alguma informação por “email” ou por SMS.
No próprio dia de Sábado tinha ido levantar o meu dorsal e estava bem assinalada a hora da partida para as oito da manhã. Até indicação em contrário as oito da mahã eram a minha hora de partida. Mantive-me tranquilo. Com os filhos e netos em minha casa o tema Maratona passava para segundo plano. Tudo tranquilo.
Já perto das nove da noite recebo finalmente uma mensagem avisando-me para a antecipação da hora de partida da Maratona para as sete da manhã. Em simultâneo cai na minha Caixa de Correio Electrónico a informação sobre esta alteração da hora de partida da Maratona.
Olá Carlos,
Perante as temperaturas elevadas previstas para amanhã, dia 8, as partidas da EDP Maratona de Lisboa, da Luso Meia Maratona e da EDP 8K foram antecipadas. Assim as partidas serão:
EDP Maratona de Lisboa: 07h00 da manhã
Luso Meia Maratona: 09h00 da manhã
EDP 8K: 09h00 da manhã
Também os tempos limites para terminar as provas foram revistos. O tempo limite para terminar a Maratona é de 5 horas e o tempo limite para terminar a Meia Maratona e a 8K é de 2 horas e meia.
Esta antecipação das partidas tem como objetivo proteger os participantes das horas mais quentes. Relembramos que a organização reforçou os abastecimentos de água e chuveiros ao longo do percurso.
No total a EDP Maratona de Lisboa terá 13 abastecimentos e três chuveiros, a Luso Meia Maratona quatro abastecimentos e três chuveiros e a EDP 8K um abastecimento, no final da ponte, e dois chuveiros (comuns à meia-maratona). Na meta, será também entregue água a todos os finalistas.
Os comboios da CP de Lisboa para Cascais partem do Cais do Sodré às 05h15, 05h30 e às 06h00 da manhã.
Os autocarros para a partida da Luso Meia Maratona e da EDP 8k, na ponte Vasco da Gama, estarão disponíveis entre as 07h00 e as 08h00 da manhã, na Gare do Oriente.
Agradecemos a sua compreensão e pedimos-lhe que se hidrate e tenha atenção aos sinais do corpo.
Dada a questão logística derivada do facto dos locais de Partida e de Chegada serem em pontos opostos apenas tive de antecipar a minha hora de saída de casa.
Tinha preparado tudo para deixar o meu carro em Algés e depois apanhar um dos primeiros comboios da manhã com destino a Cascais.
Acertei o meu despertador para as três e meia da manhã. O meu objectivo era chegar com alguma margem de manobra a Algés para procurar lugar de estacionamento “à borla” e relativamente próximo da Estação da CP.
Não sei se foi por algum nervosismo o certo é que a partir das três da manhã acordei, ainda antes do sinal do despertador, e não mais voltei a adormecer.
Optei por me levantar calmamente e equipar-me com toda a tranquilidade do Mundo. De véspera já tinha deixado tudo devidamente organizado: Equipamento de Corrida e Suplementos alimentares.
Saio de casa ainda de noite e chego a Algés por volta das quatro horas e um quarto. Exagerei. O comboio que me propunha apanhar deveria passar por volta as 5 e 41 e ali estava eu seguramente com mais de uma hora de avanço. Mas é uma característica minha preferir chegar cedo do que em cima da hora.
Àquela hora da manhã nota-se o movimento daqueles que ainda estão a gozar a “noite Lisboeta”. Para eles a Maratona é outra coisa.
Quando chego à plataforma da Estação de Comboios da CP de Algés encontro os primeiros atletas. Tudo muito estranho para aquela hora, não fosse a circunstância de se ir realizar a Maratona de Lisboa.
O comboio oriundo do Cais do Sodré chega a Algés já bastante cheio. Mesmo assim ainda conseguiu albergar mais uns quantos atletas.
O ambiente dentro do comboio é uma mistura de dois grupos. Por um lado temos os “habitués” da Noite que regressam a casa para o merecido, na opinião deles, descanso. Destoando temos os Maratonistas que em vez do descanso aproveitam para se alimentarem, aquecerem as articulações ou ainda se hidratarem.
Presenciamos um cenário bastante curioso.
Chegamos a Cascais ainda noite cerrada.
O movimento nas ruas não é nada consentâneo com aquela hora. Ainda por cima o equipamento desportivo daquela imensa mole humana contribui para um ambiente bastante estranho.
A chegada ao Hipódromo de Cascais acaba por ser o aquecimento da maioria dos atletas. Nem precisámos do aquecimento promovido por uma equipa do “Holmes Place”.
Os atletas aguardam impacientemente pela partida da Grande Prova. Ainda não se faz sentir a luz do dia. Estranho quando estas provas têm o seu início já depois do nascer do Sol. São as consequências das medidas tomadas pela Organização. Um atleta mostrou-me o seu desagrado, mas digo-lhe que o Maratona deve ter preferido tomar estas medidas mais drásticas para evitar, dentro do possível, algum acidente mais desagradável. Lembro-lhe que na Meia Maratona de Lisboa em Março deste ano um atleta estrangeiro morreu após cruzar a meta em, Belém Também nesse dia se fez sentir uma onda de calor. Assim considero que foi acertada esta decisão.
O traçado da Maratona de Lisboa foi o mesmo das últimas edições. A única novidade teve a ver com a hora de partida. Regressados a Cascais, depois de uma incursão rumo ao Guincho, com o ponto de viragem por volta do quilómetro 6,5, começa a nascer o dia. Um pouco mais à frente, após a passagem pelo Estoril começamos a ter a companhia do Sol. Temos pela frente uma longa caminhada praticamente plana até à Praça do Comércio.
Contrariando as previsões o tempo manteve uma temperatura bastante agradável. Ao longo da Marginal tivemos sempre como nossa aliada uma brisa ligeiramente fresca.
Os locais de abastecimento estiveram à altura das necessidades. Se no início tivemos abastimentos de líquidos a cada cinco quilómetros quando a temperatura começou a subir a frequência passou para dois a três quilómetros. Cinco Estrelas.
À chegada ao Dafundo preparamo-nos para a “tenebrosa” recta até à Meta que parece nunca mais ter fim. Sem sombras e com a ausência de qualquer brisa mais fresca. Só a zona de chuveiros amenizava um pouco o calor. Por ser já nossa conhecida de outras provas talvez tenha contribuído para abordarmos estes quilómetros finais com maior ânimo.
A passagem pelo pórtico indicando a distância da Meia Maratona dá início à contagem decrescente. Já falta menos do que percorremos. A partir dos 32 quilómetros tenho pela frente uma simples corrida de dez quilómetros. É a distância típica de uma habitual prova de estrada.
Ânimo que o fim está próximo.
Nesta edição da Maratona de Lisboa cumpri todos os concelhos habituais. Hidratei-me bem, apesar de já não suportar o sabor a plástico das garrafinhas de água que nos iam entregando. Pedia sempre duas garrafas, uma para arrefecer os músculos e a outra para ir bebendo à medida que ia correndo. A alimentação, normalmente responsável por momentos de quebra dos atletas, não foi por mim descurada. Desde as barras energéticas até às pastilhas de Isostar para prevenir cãibras tudo contribuiu para que conseguisse chegar ao fim sem qualquer sobressalto. Procurei sempre manter um ritmo constante ao longo dos quarenta e dois quilómetros.
O único ponto negativo foi chegar à meta e verificar que gastei mais cerca de uma hora do que o habitual nas minhas últimas maratonas. Mas foi também a minha primeira corrida nesta distância desde que fui operado ao joelho esquerdo em 2019. Desistir não está no meu horizonte e já penso na próxima Maratona.
E vão treze…
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