Uma semana após o Lisboa Green Trail eis-me regressado ao meu ambiente predilecto de corridas. Se a minha médica que me operou ao menisco soubesse das minhas aventuras e do meu completo desrespeito pelos seus conselhos certamente que me dava um valente raspanete.
Pois. Mas há valores mais altos que me fazem desviar do caminho certo. Ou talvez não. Acima de tudo há que manter um “astral” em alta. E para manter um astral em alta nada melhor do que uma boa prova de Trail.
A Corrida de Trail permite-nos fazer uma limpeza ao cérebro. Os longos momentos em que me encontro em profundo isolamento, normalmente quando não vejo atletas à minha frente ou atrás de mim, são uma boa oportunidade para apreciar tudo o que me rodeia e o lado belo da vida.
As corridas de Trail são tudo menos provas tranquilas. Os nossos limites são continuamente colocados à prova. A nossa força mental é muito importante para vencer os diversos obstáculos.
O Trail dos Moinhos Saloios tem sido uma corrida que, ao longo dos sete anos de existência, tem conseguido atrair os atletas que, deste modo, regressam anualmente à freguesia da Venda do Pinheiro e de Santo Estêvão das Galés para contribuírem para um ambiente muito colorido e de grande animação.
Mas ao longo deste tempo a dificuldade do percurso tem vindo a aumentar, que por outro lado, tem vindo a registar um decréscimo no número de atletas, principalmente no Trail Longo.
O gráfico da altimetria é, por si só, assustador.
Mas é normalmente assim nesta variante das corridas. Nada que nos assuste verdadeiramente.
No entanto na hora da partida há outro motivo de apreensão da minha parte. O reduzido número de atletas é um mau prenúncio de como vai ser difícil escapar ao último lugar. Após ter percorrido os 400 metros iniciais ainda dentro do Parque Urbano da Venda do Pinheiro, e quando nos começamos a entrar no ”trail” propriamente dito, olho para trás e… não vejo alguém atrás de mim. Vais ser uma corrida difícil. Mas tudo bem.
Após a primeira subida ainda consigo recuperar três lugares, mas sinto que a fuga ao último lugar vai ser o meu constante desafio ao longo dos cerca de 25,5 quilómetros da prova. Esqueço este pormenor a dedico-me a disfrutar ao máximo a beleza do percurso.
Alguns troços já eram meus conhecidos das edições anteriores nas quais participei, uma delas com o meu colega destas andanças Frederico. Mas a maioria do percurso era nova para mim. Este pormenor revela um esforço da organização em inovar todos os anos.
Como era de esperar faço grande parte do “trail” em completo isolamento. Algo que me é habitual. E, num raro momento em que me passou pela cabeça poder desistir de terminar a corrida, chega um elemento tão apreciado por mim. O tempo tinha estado até aquela altura um bocado encoberto. Foi então que o Sol marca presença num céu completamente despido de nuvens dando espaço para o aparecimento do calor de que eu tanto gosto. Ganhei novo ânimo e fiquei na minha cabeça com a certeza de que iria chegar até ao fim. Nada, apenas algum acidente, me faria desistir do meu ojectivo.
E ganhei também outro ânimo quando, após inúmeras vezes ter olhado para trás à procura de algum atleta mais atrasado, vejo dois companheiros de luta a uns escassos cem metros atrás de mim. O meu ritmo de corrida aumentou e vi ali um desafio para me empurrar até à meta. Este foi o apoio de que eu tanto precisava.
Os últimos cinco quilómetros foram os mais difíceis de toda a corrida. Pelo menos para mim. Após o último abastecimento começamos com o “quilómetro vertical”. Um elemento da organização alerta-me para a dificuldade desta parte final e aconselha-me a descansar e adoptar um ritmo mais calmo.
Fiquei preparado para o que me esperava.
Após o último controlo de passagem dos atletas dizem-me que faltavam cera de dois quilómetros. Até à Vacaria era sempre a descer terminando com uma pequena subida de cerca de 100 metros já mesmo antes de regressar ao Parque Urbano da Venda do Pinheiro. Entro num carrossel final, já conhecido de anos anteriores, que completo em ritmo vivo. Numa das descidas mais exigentes apercebi-me que os meus sapatos tinham começado a dar sinais de alguma falência com a sola a querer separar-se do resto da sapatilha. Mas, mesmo com este contratempo, consigo terminar a prova em bom andamento deixando bem para trás os outros atletas que chegaram, momentaneamente, a “ameaçarem-me”.
Quando entro nas derradeiras centenas de metros vou ainda buscar forças às minhas reservas e faço o meu “sprint” final habitual. Olho para trás e não vejo qualquer “ameaça”. Alguns minutos mais tarde cortam a linha da meta os outros dois atletas. Verifico que um deles era o “Vassoura”.
Em termos de curiosidade adianto que terminram setenta e um atletas tendo desistido dois dos que iniciaram o Trail Longo
Desloco-me para o meu carro e o um elemento da organização estava com a Ana ao telefone a perguntar por mim. Digo-lhe que me encontrava bem não sem levar um grande, e talvez merecido, raspanete da minha mulher por não ter respondido à chamada que me tinha feito. Digo-lhe que estava naqueles dois quilómetros finais nos quais procurava distanciar-me dos dois últimos atletas ao mesmo tempo que desejava que os meus Ténis não falissem de vez.
Já no período de recuperação muscular verifico que tinha gasto mais de cinco horas quando pensava demorar pouco mais de três horas.
E para o, ano há mais. Mas, de futuro, tenho de tomar mais atenção ao número de atletas inscritos e à sua média de idades. Talvez deva optar então pelo “Trail Curto”.
Mas tenho também outra certeza. Não vou desistir desta modalidade de corrida. E dou comigo a pensar que se tivesse de fazer de novo este Trail dos Moinhos Saloios não viraria a cara ao desafio do Trail Longo.
Haja condições físicas.
Mais um capítulo terminado. E que venham outros.
Soube também que o meu colega “estradista” Carlos Teixeira tinha participado na Corrida de Santo António. Foi mais um fim de semana de grande actividade da equipa das LEBRES E TARTARUGAS.
[Crónica de CARLOS GONÇALVES]
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