Segunda-feira, 12 de Junho de 2023

TRAIL DOS MOINHOS SALOIOS

Uma semana após o Lisboa Green Trail eis-me regressado ao meu ambiente predilecto de corridas. Se a minha médica que me operou ao menisco soubesse das minhas aventuras e do meu completo desrespeito pelos seus conselhos certamente que me dava um valente raspanete.

 

Pois. Mas há valores mais altos que me fazem desviar do caminho certo. Ou talvez não. Acima de tudo há que manter um “astral” em alta. E para manter um astral em alta nada melhor do que uma boa prova de Trail.

 

A Corrida de Trail permite-nos fazer uma limpeza ao cérebro. Os longos momentos em que me encontro em profundo isolamento, normalmente quando não vejo atletas à minha frente ou atrás de mim, são uma boa oportunidade para apreciar tudo o que me rodeia e o lado belo da vida.

 

As corridas de Trail são tudo menos provas tranquilas. Os nossos limites são continuamente colocados à prova. A nossa força mental é muito importante para vencer os diversos obstáculos.

 

O Trail dos Moinhos Saloios tem sido uma corrida que, ao longo dos sete anos de existência, tem conseguido atrair os atletas que, deste modo, regressam anualmente à freguesia da Venda do Pinheiro e de Santo Estêvão das Galés para contribuírem para um ambiente muito colorido e de grande animação.

 

Mas ao longo deste tempo a dificuldade do percurso tem vindo a aumentar, que por outro lado, tem vindo a registar um decréscimo no número de atletas, principalmente no Trail Longo.

 

O gráfico da altimetria é, por si só, assustador.

Altimetria.jpg

Mas é normalmente assim nesta variante das corridas. Nada que nos assuste verdadeiramente.

 

No entanto na hora da partida há outro motivo de apreensão da minha parte. O reduzido número de atletas é um mau prenúncio de como vai ser difícil escapar ao último lugar. Após ter percorrido os 400 metros iniciais ainda dentro do Parque Urbano da Venda do Pinheiro, e quando nos começamos a entrar no ”trail” propriamente dito, olho para trás e… não vejo alguém atrás de mim. Vais ser uma corrida difícil. Mas tudo bem.

 

Após a primeira subida ainda consigo recuperar três lugares, mas sinto que a fuga ao último lugar vai ser o meu constante desafio ao longo dos cerca de 25,5 quilómetros da prova. Esqueço este pormenor a dedico-me a disfrutar ao máximo a beleza do percurso.

 

Alguns troços já eram meus conhecidos das edições anteriores nas quais participei, uma delas com o meu colega destas andanças Frederico. Mas a maioria do percurso era nova para mim. Este pormenor revela um esforço da organização em inovar todos os anos.

 

Como era de esperar faço grande parte do “trail” em completo isolamento. Algo que me é habitual. E, num raro momento em que me passou pela cabeça poder desistir de terminar a corrida, chega um elemento tão apreciado por mim. O tempo tinha estado até aquela altura um bocado encoberto. Foi então que o Sol marca presença num céu completamente despido de nuvens dando espaço para o aparecimento do calor de que eu tanto gosto. Ganhei novo ânimo e fiquei na minha cabeça com a certeza de que iria chegar até ao fim. Nada, apenas algum acidente, me faria desistir do meu ojectivo.

 

E ganhei também outro ânimo quando, após inúmeras vezes ter olhado para trás à procura de algum atleta mais atrasado, vejo dois companheiros de luta a uns escassos cem metros atrás de mim. O meu ritmo de corrida aumentou e vi ali um desafio para me empurrar até à meta. Este foi o apoio de que eu tanto precisava.

 

Os últimos cinco quilómetros foram os mais difíceis de toda a corrida. Pelo menos para mim. Após o último abastecimento começamos com o “quilómetro vertical”. Um elemento da organização alerta-me para a dificuldade desta parte final e aconselha-me a descansar e adoptar um ritmo mais calmo.

 

Fiquei preparado para o que me esperava.

 

Após o último controlo de passagem dos atletas dizem-me que faltavam cera de dois quilómetros. Até à Vacaria era sempre a descer terminando com uma pequena subida de cerca de 100 metros já mesmo antes de regressar ao Parque Urbano da Venda do Pinheiro. Entro num carrossel final, já conhecido de anos anteriores, que completo em ritmo vivo. Numa das descidas mais exigentes apercebi-me que os meus sapatos tinham começado a dar sinais de alguma falência com a sola a querer separar-se do resto da sapatilha. Mas, mesmo com este contratempo, consigo terminar a prova em bom andamento deixando bem para trás os outros atletas que chegaram, momentaneamente, a “ameaçarem-me”.

 

Quando entro nas derradeiras centenas de metros vou ainda buscar forças às minhas reservas e faço o meu “sprint” final habitual. Olho para trás e não vejo qualquer “ameaça”. Alguns minutos mais tarde cortam a linha da meta os outros dois atletas. Verifico que um deles era o “Vassoura”.

 

Em termos de curiosidade adianto que terminram setenta e um atletas tendo desistido dois dos que iniciaram o Trail Longo

 

Desloco-me para o meu carro e o um elemento da organização estava com a Ana ao telefone a perguntar por mim. Digo-lhe que me encontrava bem não sem levar um grande, e talvez merecido, raspanete da minha mulher por não ter respondido à chamada que me tinha feito. Digo-lhe que estava naqueles dois quilómetros finais nos quais procurava distanciar-me dos dois últimos atletas ao mesmo tempo que desejava que os meus Ténis não falissem de vez.

Já no período de recuperação muscular verifico que tinha gasto mais de cinco horas quando pensava demorar pouco mais de três horas.

 

E para o, ano há mais. Mas, de futuro, tenho de tomar mais atenção ao número de atletas inscritos e à  sua média de idades. Talvez deva optar então pelo “Trail Curto”.

 

Mas tenho também outra certeza. Não vou desistir desta modalidade de corrida. E dou comigo a pensar que se tivesse de fazer de novo este Trail dos Moinhos Saloios não viraria a cara ao desafio do Trail Longo.

 

Haja condições físicas.

 

Mais um capítulo terminado. E que venham outros.

 

Soube também que o meu colega “estradista” Carlos Teixeira tinha participado na Corrida de Santo António. Foi mais um fim de semana de grande actividade da equipa das LEBRES E TARTARUGAS.

 

[Crónica de CARLOS GONÇALVES]

publicado por Carlos M Gonçalves às 22:27

link do post | comentar | favorito

.mais sobre mim

.pesquisar

 

.Novembro 2024

Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
25
26
27
28
29
30

.posts recentes

. OEIRAS TRAIL

. TRIATLO DE S. MARTINHO DO...

. 8ºTRAIL DOS MOINHOS SALOI...

. CORRIDA DO 1º DE MAIO

. GRANDE PRÉMIO DO ATLÂNTIC...

. CORRIDA DO FIM DA EUROPA

. CORRIDA SÃO SILVESTRE DE ...

. CORK TRAIL 2023

. CORRIDA DA ÁGUA

. OEIRAS TRAIL 2023

.arquivos

. Novembro 2024

. Setembro 2024

. Junho 2024

. Maio 2024

. Fevereiro 2024

. Janeiro 2024

. Dezembro 2023

. Novembro 2023

. Outubro 2023

. Setembro 2023

. Junho 2023

. Maio 2023

. Março 2023

. Fevereiro 2023

. Janeiro 2023

. Dezembro 2022

. Novembro 2022

. Outubro 2022

. Setembro 2022

. Junho 2022

. Maio 2022

. Fevereiro 2022

. Dezembro 2021

. Novembro 2021

. Agosto 2021

. Maio 2020

. Abril 2020

. Março 2020

. Fevereiro 2020

. Janeiro 2020

. Dezembro 2019

. Novembro 2019

. Outubro 2019

. Setembro 2019

. Julho 2019

. Junho 2019

. Maio 2019

. Abril 2019

. Março 2019

. Fevereiro 2019

. Janeiro 2019

. Dezembro 2018

. Novembro 2018

. Outubro 2018

. Setembro 2018

. Julho 2018

. Junho 2018

. Maio 2018

. Abril 2018

. Março 2018

. Fevereiro 2018

. Janeiro 2018

. Dezembro 2017

. Novembro 2017

. Outubro 2017

. Setembro 2017

. Agosto 2017

. Julho 2017

. Junho 2017

. Maio 2017

. Abril 2017

. Março 2017

. Fevereiro 2017

. Janeiro 2017

. Dezembro 2016

. Novembro 2016

. Outubro 2016

. Setembro 2016

. Julho 2016

. Junho 2016

. Maio 2016

. Abril 2016

. Março 2016

. Fevereiro 2016

. Janeiro 2016

. Dezembro 2015

. Novembro 2015

. Outubro 2015

. Setembro 2015

. Agosto 2015

. Julho 2015

. Junho 2015

. Maio 2015

. Abril 2015

. Março 2015

. Fevereiro 2015

. Janeiro 2015

. Dezembro 2014

. Novembro 2014

. Outubro 2014

. Setembro 2014

. Julho 2014

. Junho 2014

. Maio 2014

. Abril 2014

. Março 2014

. Fevereiro 2014

. Janeiro 2014

. Dezembro 2013

. Novembro 2013

. Outubro 2013

. Setembro 2013

. Agosto 2013

. Julho 2013

. Junho 2013

. Maio 2013

. Abril 2013

. Março 2013

. Fevereiro 2013

. Janeiro 2013

. Dezembro 2012

. Novembro 2012

. Outubro 2012

. Setembro 2012

. Julho 2012

. Junho 2012

. Maio 2012

. Abril 2012

. Março 2012

. Fevereiro 2012

. Janeiro 2012

. Dezembro 2011

. Novembro 2011

. Outubro 2011

. Setembro 2011

. Agosto 2011

. Junho 2011

. Maio 2011

. Abril 2011

. Março 2011

. Fevereiro 2011

. Janeiro 2011

. Dezembro 2010

. Novembro 2010

. Outubro 2010

. Setembro 2010

. Agosto 2010

. Julho 2010

. Junho 2010

. Maio 2010

. Abril 2010

. Março 2010

. Fevereiro 2010

. Janeiro 2010

. Dezembro 2009

. Novembro 2009

. Outubro 2009

. Setembro 2009

. Julho 2009

. Junho 2009

.links

.subscrever feeds