Férias são para descansar, para recuperar as energias necessárias para o regresso à nossa actividade diária que se vai estender nos próximos onze longos meses.
As Férias são a oportunidade ideal para recuperar dos dias mal dormidos, apesar dos especialistas afirmarem que nunca recuperamos o sono perdido. Mas se assim não o é em termos fisiológicos pelo menos recuperamos em termos psicológicos. Não há nada como uma noite bem dormida para se começar um novo dia cheios de energia para podermos fazer tudo o que nos apetece.
É em Férias que pomos algumas leituras em dia. É também em Férias que avançamos um pouco mais naquele livro que estamos a tentar escrever, mas que não lhe conseguimos dedicar o tempo suficiente no final de cada dia da nossa rotina diária de trabalho.
E as Férias são a boa oportunidade para visitar aqueles locais que temos vindo a adiar.
É também em Férias que recuperamos algumas amizades que fomos esquecendo ao longo do ano. E é também nesta altura que visitamos aqueles familiares mais afastados e com os quais habitualmente apenas contactamos por telefone.
Mas as Férias também podem ser uma óptima oportunidade para recuperar a forma física e eliminar aqueles indesejáveis “quilitos” extra que vamos ganhando ao longo do ano.
E podia ficar aqui a desfiar um rol de coisas às quais nos dedicamos durante Férias.
Estando a gozar uma semana de descanso na maravilhosa “Paisagem Protegida da Serra do Açôr”, aproveitei para participar na nona edição do Benfeita Trail, prova da qual guardo boas recordações da minha participação em 2015.
Quando verifiquei que já tinha terminado o prazo das inscrições enviei por volta da meia-noite de domingo uma mensagem para a organização da prova a solicitar que aceitassem a minha inscrição. Como não obtive resposta na segunda-feira de manhã liguei para o telemóvel de um elemento da organização. A resposta foi positiva. Enviei de imediato um SMS com todos os elementos necessários.
O Benfeita Trail tinha três Modalidades:
Como é meu hábito, e com alguma inconsciência pelo meio, atirei-me sem qualquer pejo para o Trail 22 K. Em 2015 fiz a prova de 28 quilómetros sem problemas de maior pelo que considerei que uma distância inferior estaria perfeitamente ao meu alcance.
No Sábado, véspera da prova, desloquei-me à Benfeita para levantar o meu dorsal. Foi então que comecei a ficar um pouco apreensivo quando me avisaram que ao longo do Trail 22K nos estavam reservados alguns “mimos” havendo mesmo uma “hora de corte” a partir da qual não seria permitido aos atletas seguirem até ao final da prova atacando o último grande desafio.
Fiquei toda a noite a pensar nisto. Quando acordei a minha disposição para a prova não era muito grande tendo mesmo pensado em não comparecer à partida.
A Ana, minha mulher, sugeriu-me mudar para o Trail 12K, que certamente estaria à minha altura. E assim fiz.
Quando chegámos à Benfeita a animação já era grande, aliás demasiado grande para esta pacata freguesia do concelho de Arganil e uma das “Aldeias de Xisto”.
A cada minuto que passava considerava como acertada a minha decisão. Aliás houve mais atletas que trocaram o Trail mais longo pelo mais curto. Olhando em redor verificava que a esmagadora maioria dos atletas apresentava um perfil de alta competição. Se me incluísse naquela prova com grande certeza que seria relegado para o fim fazendo praticamente toda a corrida sozinho. E este é precisamente o ambiente oposto ao que se encontra habitualmente em corridas de Trail.
Antes da partida tem lugar o habitual “briefing” sendo dado destaque à tal barreira horária por volta do quilómetro dezoito.
O perfil altimétrico era um pouco assustador.
Finalmente começam as hostilidades. O primeiro terço da prova, se assim lhe podemos chamar, são coincidentes para os dois Trails. Os primeiros três quilómetros começam logo a exigir o máximo dos atletas. Desde subidas quase a rastejar, até descidas muito técnicas, mostravam que estávamos a participar numa corrida de trilhos a sério. As paisagens são deslumbrantes e percorremos trilhos que habitualmente não estão acessíveis a quem passa por esta zona. Em determinada altura entramos para zonas mais interiores. Subitamente passamos por um pequeno passadiço. À esquerda deparo-me com uma meio escondida cascata, uma espécie de miniatura da ultraconhecida “Fraga da Pena”. Ainda pensei tirar uma foto com o meu telemóvel, mas, com o receio de perder o contacto com alguns atletas com os quais seguia, optei por avançar por uma pequena ribeira por onde escoava a água daquela cascata. Mais tarde tentarei voltar a este local.
De regresso à Benfeita chegamos ao primeiro abastecimento que é, simultaneamente, o ponto de separação dos dois Trail.
Um pouco mais à frente chega-se à tal “barreira horária” do Trail Longo. Daí para a frente temos o último desafio que virá também a ser percorrido pelos atletas do Trail 22K. Fiquei satisfeito pois normalmente é hábito reservarem-nos para o final grandes surpresas. E eu gostava de as conhecer.
Quando cheguei a Pais das Donas concluo que, afinal, este último segmento até era perfeitamente fazível sem problemas de maior.
No último abastecimento sou ultrapassado pelo primeiro atleta dos 22 quilómetros. Boa. Deste modo posso aferir qual o andamento destes “profissionais” coisa que sempre desejei, mas que nunca tive tal oportunidade. Realmente têm uma diferença de ritmo assinalável, mesmo depois de dezasseis quilómetros nas pernas.
A última parte, antes da descida final, é feita em estradões de montanha sem grande dificuldade ou inclinação. A paisagem é magnífica. Parece que estou no topo do Mundo. Tudo está abaixo de mim. Em Luadas está uma placa bastante animadora indicando que devemos virar à direita e que a Meta está a 1 Km. E é nesta parte final, um pouco mais à frente, que alguns atletas se enganam no percurso fruto da deficiente marcação meio escondida no chão.
A derradeira descida é um pouco de cortar a respiração. É nela que sou ultrapassado por vários atletas da competição maior. Enquanto tento equilibrar-me, e evitar quedas desagradáveis, os “prós” até parece que voam.
Retorno à Benfeita e ao ponto de partida. Corto a meta com uma sensação de dever cumprido. Mas também acho que tinha reservas para muito mais. Talvez até conseguisse fazer o Trail Longo e sem ser barrado. Uma certeza tenho. Provavelmente faria toda a prova sozinho.
Talvez para o ano, mais bem preparado, ganhe coragem para me inscrever no Trail mais longo.
Percorre-me um sentimento de alguma culpa. Mais uma vez contrariei os conselhos da minha médica que me operou ao menisco. Continuo a dedicar-me mais às Corridas de Trilhos, embora com maiores precauções.
Não vejo a Ana. Ainda estava na Portela da Cerdeira. Pouco tempo depois reencontramo-nos e assistimos à chegada de muitos atletas de ambos os Trail.
Ao longe vemos os atletas a iniciarem a última descida.
Reparamos, particularmente, num atleta que desce muito lentamente dentro da segurança possível. Era o atleta responsável por fechar o pelotão de todas as provas. Terminou em boas condições, sempre com a ajuda do seu bastão.
Regresso a casa para recuperar.
Foi um final de férias em beleza.
[Cr+onica de Carlos Gonçalves]
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