A Benfeita é uma aldeia do concelho de Arganil, pertencente à freguesia com o mesmo nome, e integrada em plena Paisagem Protegida da Serra do Açor. Mesmo às portas de entrada na Reserva Natural da Mata da Margaraça conta com a companhia de outras aldeias de igual beleza e ainda com o “ex-libris” da Fraga da Pena, local de visita obrigatória pelos muitos turistas que crescentemente partem dos principais centros urbanos do nosso País à procura de tesouros escondidos e que ainda não sofreram a erosão da civilização. E, para compor o cenário, convém também referir que a Benfeita situa-se a menos de três de dezenas de quilómetros do ultra conhecido Piódão.
Só por este introito já valeu a pena aos muitos dos atletas – Caiminheiros, Trailistas e Ultra-Trailistas - que, neste fim de semana, se deslocaram à Benfeita para participarem no Trail integrado nas Festas anuais desta freguesia.
E qual o papel do nosso trailista Carlos Gonçalves nesta aldeia perdida algures no eixo montanhoso Lousã/Açor/Estrela? Acima de tudo representar as LEBRES E TARTARUGAS em mais um desafio de montanha. Por outro lado este é um dos cenários de retiro deste atleta numa parte das suas férias de Verão e que por vezes também serve de escapada, sempre que pode, ao bulício da cidade. A sua base logística não é propriamente dita na Benfeita mas na Portela da Cerdeira, a escassos oito quilómetros, e que é ponto de passagem a todos os que se dirigem serra acima rumo ao Piódão ou ao Fajão, aldeia pertencente ao concelho de Pampilhosa da Serra. E mais pontos de interesse podemos encontrar nesta zona.
Este local pode ser considerado um dos paraísos da terra. Dificilmente encontraremos maior sossego, excepto quando passa por perto uma daquelas motorizadas, qual Famel Zundapp, tão habituais nestas zonas mais recônditas e à imagem de um passado já um pouco distante dos idos anos sessenta quando não havia ainda normas para controlar a poluição sonora.
Mas também dificilmente encontraremos um local com ar tão puro, descontando-se qualquer encontro esporádico com algum veículo automóvel pré-histórico do tempo em que também não havia qualquer lei de controlo dos gases de escape. Aqui não há zonas interditas a qualquer tipo de viatura.
A aldeia da Benfeita é também conhecida por ser o único local da Europa que assinala todos os anos o fim da Segunda Guerra Mundial. No dia sete de Maio o Sino da Paz, através das suas 1620 badaladas, relembra o número de dias que durou este conflito. É uma forma de preservar um passado importante e de o transmitir aos mais jovens.
E, História à parte, como é que o nosso atleta aparece esporadicamente nesta prova? Por já estar registado na OFFCRONO, através da sua participação em outros “trails” organizados pela mesma entidade, recebeu um “mail” em Julho anunciando a realização do Benfeita Trail em pleno mês de Agosto numa altura em que se encontraria na zona em gozo das suas férias de Verão. Juntava-se o útil ao agradável pelo que decidiu desde logo que estaria presente nesta corrida de montanha. Ainda tentou arregimentar os seus dois outros companheiros mas sem qualquer sucesso. Assim iria recair totalmente sobre os seus ombros a responsabilidade de levar o nome das LEBRES E TARTARUGAS a novas paragens.
No dia 16 de Agosto, bem cedinho, o atleta chegava com a sua “cara metade” à Benfeita para cumprir as formalidades de levantamento do dorsal e do dispositivo de controlo dos tempos. O cenário em redor era um pouco assustador com o elevado número de atletas com perfil de altamente bem preparados prenunciando uma tarefa bem difícil para este humilde amador.
Mas nada conseguiu demover o atleta dos seus intentos. Se ficasse em último tudo bem desde que completasse toda a prova e em condições aceitáveis.
Atendendo à ausência dos seus companheiros de luta encontrou uns simpáticos Alpacas para lhe fazerem companhia na fotografia da praxe.
Antes do início da corrida todos os atletas tinham de se registar no controlo da partida. A azáfama normal em provas de montanha imprime uma animação pouco habitual no quotidiano destas redondezas. Expectante perante tal animação a nossa habitual “treinadora” controlava a situação aguardando pela largada dos atletas.
Pouco passava das nove horas quando se dá início à partida dos Trailistas (18 Km) e dos Ultratrailistas (28 Km). Os Caminheiros partiriam um pouco mais tarde.
O gráfico da altimetria da prova não deixava ninguém tranquilo. Seria sempre aos altos e baixos com algumas contagens de “prémios da montanha” à semelhança do que sucede nas provas de ciclismo.
O ambiente em redor é perfeitamente deslumbrante. Tirando o grupo dos que habitualmente participam nestas provas para obterem uma boa classificação, os restantes aproveitam para acumularem a prática desportiva com o disfrutarem ao máximo o que a natureza nos reserva. A parte inicial é constituída por trilhos bastante estreitos sendo praticamente impossíveis as ultrapassagens. Quando há alguma folga é vê-los a passarem pelos atletas mais lentos. Cedo se estabelecem as diferenças de andamento que mais tarde se vêem reflectidas na classificação final. Os primeiros dez quilómetros são feitos na companhia dos atletas das duas distâncias o que dificulta a aferição do andamento próprio para quem se dispôs a cumprir os vinte e oito quilómetros do Ultra Trail.
Visitamos lugares nem sempre acessíveis a quem se desloca de automóvel. Raramente entramos no alcatrão. Alguns aproveitam para fazerem ligeiras pausas e registarem nos seus telemóveis as deslumbrantes paisagens que vão disfrutando. “Para mais tarde recordar” é o lema de alguns que pretendem aproveitar ao máximo esta incursão pelo interior de Portugal. Nunca se sabe quando aqui voltarão ou se estarão apenas a abrir o apetite para um posterior regresso e eventualmente na companhia de mais alguém.
À passagem pelas povoações somos brindados pelo calor humano que nos vai agradecendo a nossa visita às suas terras. Sentimo-nos confortados e orgulhosos da nossa importância.
De subida em subida, de descida em descida, umas mais acessíveis e outras nem tanto,
vamos diminuindo no nosso conta-quilómetros regressivo a distância que nos falta cumprir até ao final.
No Ponto de Vigia da Serra do Açor atingimos a cota mais elevada de todo o percurso. Estava a ser uma prova dura mas sem a dureza extrema de outros “trails”. Passado o último Ponto de Abastecimento informam-nos que a partir desse ponto era sempre a descer. Só que os últimos dois quilómetros são de verdadeiro trail, o que até aqui ainda não tínhamos provado verdadeiramente. Numa sucessão de trilhos bastante técnicos deparamo-nos com troços nada aconselháveis a quem sofra de vertigens. Só temos de olhar para onde colocar os pés e esquecer os pequenos abismos laterais que balizam o nosso trajecto. Todo o cuidado é pouco para não aterrarmos alguns metros mais abaixo, provavelmente muito mal tratados.
E até estava tudo a correr tão bem, pensava este humilde alteta. Para o final estava reservado o pior bocado. “Isto é o Trail”, comentava um atleta mais atrasado que subitamente me tinha realcançado. Pois, pensava eu para comigo próprio. Ele está completamente certo.
Quando entramos numa zona mais plana e sem tantos “abismos” é a altura de acelerar para a meta. No meu relógio há muito que tinha ultrapassado os vinte e oito quilómetros de prova. Para ser mais exacto o meu Garmin registou no final 28,9 quilómetros de corrida. Até fui ameaçado por um elemento da organização, em sentido figurado claro, de uma possível desclassificação por não ter cumprido integralmente o percurso da prova.
O Ultra Trail termina no final de uma sucessão de degraus requerendo uma atenção especial. Aliás antes do início da prova já tínhamos conhecido como terminariam os dois Trails.
Alguns dos últimos atletas chegaram exaustos mas com a felicidade de terem terminado mais uma aventura para juntar ao seu historial de participações em corridas deste tipo. Um Trail não é, para a maioria, para ganhar ou fazer um bom tempo. É, principalmente, para terminar.
De todas as provas de montanha em que tenho participado a Corrida dos Moinhos de Penacova, recentemente rebaptizada de Trail dos Moinhos de Penacova, era, pelo menos para mim, a prova de eleição neste domínio. Concluído o Benfeita Trail talvez esta corrida passe a ser a minha referência em provas de montanha.
Dentro de duas semanas regressarei a Penacova e então poderei fazer o ajuizamento final.
Uma certeza ficou. Em 2016 regressarei a este local para mais uma edição do Benfeita Trail.
Recebido em apoteose pela minha claque de apoio, fica para a posteridade a fotografia representativa de três gerações do clã Gonçalves.
Atletas que concluiram a prova: 79
Vencedor: UWE BORSDORF (FC Penafiel) - 2:34:44
CARLOS GONÇALVES (Dorsal Nº80)
Classificação Geral: 73º - Classificação no Escalão M: 67º
Tempo Oficial: 4:54:19/Tempo Cronometrado (Tempo do Chip): ND
Tempo médio/Km: 10m:31s <=> Velocidade média: 5,71 Km/h(*)
Calendário do Mês de Agosto
. TRIATLO DE S. MARTINHO DO...
. 8ºTRAIL DOS MOINHOS SALOI...
. GRANDE PRÉMIO DO ATLÂNTIC...
. CORRIDA SÃO SILVESTRE DE ...